domingo, 19 de agosto de 2007

Aula sobre Pauta (ombudsman Mário Magalhães)

Mais um domingo de "Bingo" pro ombudsman da Folha. Curtam principalmente os trechos em destaque.

Estorvo da pauta, maldição dos antolhos
É preciso estar de olhos e ouvidos atentos à novidade; a melhor reportagem não é a que satisfaz a pauta, mas a que vai além dela

O REPÓRTER Kleber Tomaz e o fotógrafo Antônio Gaudério saíram cedo para a entrevista que o Departamento de Investigação sobre o Crime Organizado marcara para a tarde da terça. Chegaram antes da hora.

A Polícia Civil de São Paulo anunciaria o balanço de uma operação. Enquanto esperavam em um auditório, os jornalistas da Folha ouviram gritos do outro lado de uma divisória de madeira, onde se instala uma delegacia.
Tomaz correu com o gravador. Ouviu uma voz que seria de policial: "Aqui não. Aqui você vai falar que não apanhou". Sobreveio um som de tapa. Um homem que parecia estar preso berrou: "Ai, ai".

O suposto policial: "Aqui não. Aê, seu bosta. Você vai falar que não apanhou. [...] Na época da ditadura, os caras batiam [som de risadas]". E ironizou quem apanhava em tempos não tão velhos assim: "E os bandidos: "Não senhor, pelo amor de Deus'".
O assunto da coletiva foi para o pé de uma bela reportagem que, infelizmente, não mereceu nem alto de página. A foto, "roubada" por uma fresta, não rendeu boa imagem. A polícia defendeu-se: foi "brincadeira" dos policiais. Com o "furo", contudo, a Secretaria da Segurança Pública ordenou apuração sobre os eventuais atos de tortura.
Os repórteres fizeram a coisa certa: tinham uma pauta, mas mudaram de rumo quando outra notícia se sobressaiu.

Não é sempre assim: um estorvo do jornalismo é a submissão burocrática à pauta original como um fanático ao seu livro-guia. É preciso estar de olhos -e ouvidos- atentos à novidade, rejeitando os antolhos que limitam a visão.

Conforme o "Manual da Redação" da Folha, "pauta" é "o primeiro roteiro para a produção de textos jornalísticos e material iconográfico". A melhor reportagem não é a que satisfaz a pauta, mas a que vai além dela e surpreende.

No auditório havia um terceiro repórter, de outro veículo, cuja identidade a Folha omitiu. Ele escutou os gritos, mas só noticiou o que era oficial. Ficou com a pauta de origem, calou sobre a violência.

2 comentários:

Unknown disse...

Oi PC! Fui sua aluna de Secretaria Gráfica no período passado. Olhei essa nota na coluna do Ombudsman da Folha e lembrei de vc! Assim como vc, tb sou assídua leitora da coluna. Aí entrei aqui pra ver se já estava postada. Achei mto interessante e todos os futuros jornalistas deveriam ficar atentos a isso. Bom, é só. Bjos!

PC Guimarães disse...

Bom saber que vc está atenta. E obrigado pela lembrança.
bjoca