Participo de um grupo de debates (lendo mais do que escrevendo) com professores de Comunicação de todo o País, promovido pela FNPJ (Federação Nacional dos Professores de Jornalismo - Rio de Janeiro/Espírito Santo). Destaco o texto da professora Ivana Bentes, da Escola de Comunicação da UFRJ no debate "Impasse do Jornalismo e diploma -O Futuro dos Cursos de Comunicação". Ressalto que é um texto coloquial (dentro de um debate com outros professores) e que não foi escrito em forma de artigo. Mas vale a pena ler a reflexão.
"Queria começar lembrando aqui que devemos realmente pensar numa qualificação do ensino superior independente da origem, pública ou privada. Foi, por exemplo, o equivoco dos que criticaram o PROUNI, por fomentar bolsas públicas em intituições
privadas, uma excelente entrada do governo na caixa preta das intituições privadas, que devem sim ter politicas públicas.
1) Sobre o perfil do professor de Jornalismo e Comunicação. Na ECO, que vai
muito bem, com a procura por Comunicação só perdendo no Vestibular para
Engenharia e Engenharia do Petróleo (é o segundo curso mais procurado), as
habilitações que mais cresceram foram Rádio e TV (que estamos reformatando
para Audiovisual), onde o perfil dos professores é prático/teórico sabem
fazer e prezam e utilizam teoria em aulas práticas e laboratórios. São os perfis "hibridos", jovens doutores e não tão jovens que transitam pela teoria e pela prática (e não precisa ter ficado anos em redação, isso é uma mistificação).
2) Justamente, hoje, para fazer web site, aprender a escrever (blogs explodindo), usar uma câmera digital de vídeo, fotografia, etc NÃO precisa de curso superior de jornalismo! Acabou, ninguém vai entrar numa universidade para isso! Ou os cursos oferem algo mais ou realmente esse perfil "técnico" me parece que já está em crise. Para dominar as tais "funções do jornalismo" não precisa mais de 6 meses de prática. Essa história dos "velhos homens de imprensa", que dizem que é preciso 10 ou 20
anos de "redação" não tem sentido com a massificaçãon de um ambiente "jornalistico" de "comunicação", como a internet. A redação hoje é a INTERNET. A expertise para jornalistas está acabando. Esse instrumental todo é a condição básica para qualquer pessoa trabalhar hoje!. Não precisa mesmo de 4 anos para isso! Tem que mudar o ENSINO. Tem que agregar análise simbólica, de linguagem, de conteúdo, etc.
3)O que precisa hoje, no mercado, não é de jornalista copy/paste é de gente capaz de analisar informação, resignificar, produzir informação nova com o banco de dados na internet, filtrar. O jornalista que funciona como "terminal burro" (só a expertise técnica) vai dançar, nem o mercado quer. O capitalismo hoje é de "conhecimento".
4) Sindicatos. Como você sabe estou na direção da ECO e tenho falado publicamente CONTRA o diploma de jornalista. Esse diploma não é necessário, é uma exigência puramente CORPORATIVA. Como vc bem disse publicidade não pára de crescer e NUNCA teve diploma. Acabar com o diploma não significa acabar com os cursos (senão o curso de Publicidade não existia), mas REQUALIFICÁ-LOS. Ou seja, hoje, na ECO muitos alunos fazem todo o curso de Comunicação, com habilitação em Televisão, por exemplo, e voltam para fazer mais 2 anos só pela exigência corporativa do diploma. Esses alunos de outras habilitações estão plenamente qualificados para escrever texto (tem
inclusive mais chance no mercado porque dominam multimídia, vídeo, web-design e tem a formação teórica (se as empresas quisessem jornalistas "copypaste" nossos alunos não eram os mais procurados nas seleções da Globo, GloboNews, eles são caçados pelo celular, porque têm "melhor formação" na fala dos empregadores.
5) Precários. O trabalho com carteira assinada responde por uma porcentagem infima do trabalho que o jornalista e profissional de Comunicação vai exercer. O velho "free lancer", que chamamos hoje de "precariado", o precário, é a condição do produtor de Comunicação (e de outros trabalhadores). Os cursos não formam para isso, para o aluno CRIAR o próprio emprego e ocupação. Os cursos ainda têm a mentalidade FORDISTA, de linha de montagem para grandes empresas que está acabando, hoje, no capitalismo do conhecimento, da autonomia, precarização, mais também das chances de novas ocupações, da liberdade (sem carteira assinada, mas com mais autonomia).
Esse aluno "da linha de montagem" está ferrado, vai se dar mal no mercado. Essa instituição e mentalidade "fordista" é o que está em crise.
6) Falo contra o diploma e contra a postura dos sindicatos que só defendem quem tem "carteira assinada" deixando o free lancer, o precário, que é a grande massa hoje dos formandos (inclusive os jovens doutores demitidos pela Universidades privadas depois da avaliação do MEC, para economizar).
Se os professores de instituições privadas não podem fazer essa análise publicamente, se não podem discutir novas formas de contratação dos jovens doutores, se não podem denunciar e alardear a crise financeira das universidades privadas, não sai uma linha disso na Mídia (a crise e a suspensão de salários das Universidades privadas, como os professores que são jornalistas não botam isso na imprensa?) que usem suas Assoociações, como essa aqui, que procurem os colegas de instituições públicas, pois nós podemos falar dessa crise, podemos levar a Intercom, Compos, FNPJ sem perdermos o emprego.
Bem são essas as minhas ponderações e provocações para pensarmos juntos. Ótima essa discussão toda!"
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