segunda-feira, 30 de julho de 2007

Viva a bossa, viva a palhoça. Tropicalismo revisto por jovens


Bela matéria publicada na "Folhateen" de hoje sobre fãs teens do Tropicalismo.
Um trechinho:

comportamento
Órfãos do tropicalismo
Fãs do movimento que mudou os rumos da cultura brasileira em 1967 falam sobre a influência em suas vidas
LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Final dos anos 60, auge da ditadura militar no Brasil. Na música, os discursos políticos e a valorização da cultura nacional dominavam o cenário. Em meio a isso, um grupo que reunia músicos baianos novatos, roqueiros paulistas adolescentes, um maestro erudito e uma musa da bossa nova decidiram misturar rock, guitarras psicodélicas, ritmos regionais e pérolas do cancioneiro brega nacional.
Criavam assim um dos mais influentes movimentos artísticos brasileiros, a tropicália (leia mais nas páginas 8 e 9).
Quarenta depois de sua ascensão e queda, ela ainda influencia e inspira adolescentes -que nem eram nascidos na época-, como o estudante André Lombardi, 17.
"Sempre gostei de rock de garagem e de punk e nunca consegui apreciar muito a música nacional. Depois de conhecer a tropicália, me abri para um monte de coisas brasileiras", diz o garoto, que toca na banda de rock Arquiduques e passou a compor músicas em português.
Mas a descoberta não foi tão simples. Ele confessa que, na primeira vez que ouviu o disco "Tropicália ou Panis et Circenses", achou o som chato. "Tive que ouvir umas três vezes para começar a entender."
No extremo oposto, Paula Montes, 18, que era defensora ferrenha da MPB e tinha um certo preconceito contra o pop internacional, passou a se interessar também pelo rock estrangeiro quando conheceu melhor a tropicália.
A mudança aconteceu depois que ela leu um livro sobre o movimento. "Eles quebraram padrões e tabus quando misturaram a música brasileira com elementos de fora", diz.
Amiga de Paula, Luiza Colonnese, 18, concorda: "Acho muito criativa essa mistura de ritmos. Foi um dos movimentos artísticos mais inovadores."
Para o estudante Tomás Bastos, 17, -que está fazendo uma monografia sobre o tropicalismo para a escola- o principal mérito do movimento foi a abertura para outras culturas.
"Hoje em dia, com a globalização e a internet, isso é meio inevitável. Mas, naquela época, aceitar influências externas foi um rompimento", observa.

Críticas
Como conseqüência desse rompimento, os tropicalistas foram criticados por intelectuais, por artistas e pelo pessoal adepto das canções de protesto.
"A galera mais de esquerda começou a policiar, dizendo que eles eram alienados. Mas eles tinham uma consciência política, só que não faziam parte de nenhuma doutrina. Colocavam a arte em primeiro plano. Para mim, essa é a parte mais bonita", diz André Mourão, 17, que também estudou o movimento na escola.
Para Pedro Cipis, 17, artistas como Caetano, Gil e Tom Zé souberam respeitar o legado tropicalista ao longo de suas carreiras. "Eles não têm preconceito com nenhum tipo de música. Até hoje gravam canções consideradas bregas, se apresentam com cantores populares", diz.

Jovens roqueiros
Tatá Aeroplano, 32, das bandas Cérebro Eletrônico e Jumbo Elektro, também reconhece a influência do movimento na música atual. "Ele marcou profundamente uma época e, ao mesmo tempo, é contemporâneo. Sua essência parece que se torna cada vez mais forte para as novas gerações", diz.
Bonifrate, 26, da banda carioca Supercordas, destaca a importância dos Mutantes. "Fiquei chocado quando ouvi pela primeira vez. Já me entusiasmavam timbres esquisitos e estruturas imprevisíveis de canções. Mas nunca havia imaginado algo assim".

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Com GUILHERME BRYAN , colaboração para a Folha .

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