terça-feira, 31 de julho de 2007

Umberto Eco: "O professor na era da Internet"


Que belo texto do Umberto Eco na revista Entrelivros! Vale a pena ler.

Bom Jornalismo não cansa

Belo texto do Janio de Freitas publicado hoje na Folha paulista, que, dessa vez, não embarcou na armação da Elite paulistana. E olha que a Folha é um jornal da "elite". Mas os grandes jornais às vezes surpreendem. E isso é muito bom.
Marcha da TFP não tem mais espaço no mundo de hoje. É preciso saber ler as entrelinhas dos jornais, revistas, sites e blogs. Chega de "Bastas!" e de bestas. Chega de manipulação!

Cansei de "basta!"
JANIO DE FREITAS
O que mais deseja a riqueza do país, além das condições inigualáveis que o governo Lula lhe proporcionou?

O ODOR EXALADO pelo movimento "Cansei", ainda que nem todos os seus fundadores tenham propósitos precisamente iguais, é típico do golpismo que sempre foi a vocação política mais à vista na riqueza, não importa se cansada ou não. A fonte de onde surge não lhe nega a natureza pressentida: um escritório de negócios em São Paulo, tal como se identificaria nos primórdios de todos os golpes e tentativas de golpe desde 1944/1945, pelo menos.
Também denominada "Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros" -batismo que os padrinhos relegaram, por considerarem o apelido "Cansei" mais representativo dos seus propósitos- o que a iniciativa sugere, de fato, é uma interrogação.
O que mais deseja a riqueza brasileira, além das condições inigualáveis que o governo Lula lhe proporcionou? O fim da inflação, o emudecimento do sindicalismo e das reivindicações sociais; concessões transgênicas para todos os tipos de grandes empresas e negócios, Bolsa farta e imposto baixinho ou a zero; e, sobretudo, a transferência gratuita de um oceano de dinheiro dos cofres públicos para os da riqueza privada, por intermédio dos juros recordistas concedidos pelo próprio governo aos títulos de sua emissão. Ainda não basta?
O que deseja a riqueza não pode ser a correção das deformidades socioeconômicas, institucionais e políticas que refreiam o Brasil, enquanto países do seu aparente status desenvolvem-se a níveis exuberantes. É da não-correção que vem grande parte das facilidades pelas quais a riqueza se multiplica sem cessar: a fraqueza ética do Congresso, a corrupção administrativa que só tem o corrupto e não o corruptor, as eleições movidas a marketing endinheirado, e por aí.
Além disso, nunca se viu a riqueza movendo-se, de fato, por correções e reformas a serviço do interesse do país. Os seus lobbies e outros meios só se movem, historicamente, por alterações que privilegiem os interesses da própria riqueza privada. Assim é a história parlamentar e administrativa do Brasil, para dizer o mínimo, do último meio século.
O governo Lula deu e dá à riqueza privada a situação que a ela deu o "milagre econômico" da ditadura, porém, agora sem os inconvenientes produzidos pela força. A quem vive no Brasil em nível de primeiríssimo mundo, conviria, portanto, demonstrar um pouco mais de compostura. Se não para aparentar recato que lhe falte, por um grão a mais de esperteza.
"Cansei" -e daí? Vai fazer ou, pelo menos, propõe o quê, de objetivo, prático e necessário? Disse um dos "cansados": "Queremos despertar em cada indivíduo o que ele pode fazer para mudar o país". Pois façam isso no seu próprio movimento. Sem que, para tanto, o seu alegado cansaço exale sentidos que, intencionais ou não, negados ou não, vão até onde não devem.

Da série: "O que os alunos fazem quando não estão nas aulas"




Meus amigos (em especial os alunos):
Inicio hoje uma série que pretende destacar as atividades dos alunos e ex-alunos fora das aulas. Começo com a Lorenna Eunápio, que dança "flamenco". Se o Carlos Saura entrar aqui no blog vai convidar a Lorenna pro próximo filme.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

ACM na Carta Capital


Não deixem de ler a matéria de capa da Carta Capital sobre esse ACM. Assinada por Leandro Fortes e Maurício Dias mostra quem foi esse "capo" da Política.

Novo blog de aluna: "Quem não pode se sacode"

Lorenna Eunapio, minha ex-aluna, que dança flamenco, me avisa que está com blog na praça.
http://quemnaopodesesacode.blogspot.com

Dica de livro: "Os jornais podem desaparecer?"


Encomendei no "escuro". Parece bom. O assunto me interessa.

Dica de livro: "A mídia nas eleições de 2006"


Para quem não confia em mim (e são muitos - rs), eis o que o Elio Gaspari escreveu sobre o livro:

Elio Gaspari
A campanha de 2006 revisitada

--------------------------------------------------------------------------------
Um livro útil para quem detesta os meios de comunicação e para quem teme o comissariado petista
--------------------------------------------------------------------------------
"ESTÁ NAS livrarias "A Mídia nas Eleições de 2006", uma coletânea de 11 trabalhos e seis anexos, organizada pelo jornalista Venício de Lima e editado pela Fundação Perseu Abramo, do PT. É um livro valioso porque mexe com uma velha controvérsia e trata de um tema que o fingimento faz crer que não existe: a péssima relação do governo com os grandes meios de comunicação e muito vice-versa. Como bonificação, permite a análise de algumas propostas de mudança, vindas de autores que consideram os meios brasileiros como agentes do empobrecimento do debate. Para quem vê na imprensa uma ferramenta manipuladora de interesses mercantis, o livro é um armazém de argumentos. Para quem vê nos adversários dessa mesma imprensa uma seita de censores em busca de ocupação, é um trabalho revelador.
Dois artigos analisam o conteúdo dos principais jornais e revistas durante a campanha de 2006. Um, de Kjeld Jacobsen, informa: durante as 13 semanas da disputa, o noticiário positivo do tucano Geraldo Alckmin nos cinco jornais estudados (Folha, "O Globo", "O Estado de S. Paulo", "Jornal do Brasil" e "Correio Braziliense") foi sempre superior ao de Lula. Na contabilidade do noticiário negativo, Lula prevaleceu por 12x1. Noutro artigo, Alessandra Aldé, Gabriel Mendes e Marcus Figueiredo, analisaram o noticiário da Folha, do "Globo" e do "Estado". O noticiário negativo sobre Lula prevaleceu nos três. Na Folha não predominou o noticiário positivo de Alckmin.
E daí? Daí, nada, explica Marcos Coimbra, diretor do Vox Populi. No seu artigo, demonstra que os meios de comunicação não mudaram a disposição dos eleitores. (Salvo no suspiro do dossiê dos aloprados, ao final do primeiro turno.) Coimbra aconselha: "Acredito que seria muito positivo para o avanço da democracia no Brasil que os grandes veículos de comunicação se dispusessem a fazer uma ampla revisão do que são e devem ser em nosso processo político".
No capítulo das propostas, vem um texto do professor Luís Felipe Miguel, da Universidade de Brasília. Condena o que existe e sugere que o Estado abra novos canais de comunicação. Seu pensamento se assemelha ao de muita gente boa no entorno de Lula: "Mesmo estando em mãos privadas, a mídia não pode ficar submetida à pressão da cega busca do lucro". Miguel descreve neutramente o que seriam quatro visões da "mídia ideal para diferentes visões de democracia". Uma delas, a seu ver, é a leninista, vigente em Cuba e Coréia do Norte. Diz assim: "Aceito caracterizar o (...) modelo leninista como "democrático" com certa dose de generosidade". Ele não mostra simpatia pelo gênero em extinção, mas sendo um crítico que vê no cenário brasileiro, poderia ter registrado que o modelo leninista ampara-se na censura, no desemprego e na cadeia.
Quem quiser concordar com ele, que o faça. Quem quiser discordar, também tem no "A Mídia nas Eleições de 2006" uma valiosa fonte de informações."

Estou encomendando.

Para saber mais (texto do autor do livro): http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=443AZL001

Ataque à blogosfera. Deu na Folha

Ataque à blogosfera
"Anticristo" entre os blogueiros, historiador britânico Andrew Keen diz em livro que a internet está matando a cultura e critica sites como YouTube e Wikipedia

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

George Orwell não entendeu o futuro. Em seu clássico "1984", o escritor temia pelo desaparecimento do direito à expressão individual, mas, no atual mundo da internet, o verdadeiro horror é justamente o oposto: a abundância de autores e de opiniões.
O raciocínio é do historiador britânico Andrew Keen, 46, ex-professor das universidades de Massachusetts e Berkeley (EUA) e um dos pioneiros do Vale do Silício, que na primeira onda da internet fundou o site de música Audiocafe.com.
Keen tornou-se um dos líderes da crítica à internet graças a seu livro "The Cult of the Amateur: How Today's Internet Is Killing Our Culture" (o culto ao amador: como a internet de hoje está matando nossa cultura), recém-lançado no exterior e ainda sem edição no Brasil.
Sua cruzada não é contra a tecnologia em si, mas contra a revolução da segunda geração da internet, a web 2.0, baseada na interatividade e no conteúdo gerado pelos usuários, cujos marcos são os blogs e sites como o YouTube e a Wikipedia -que, segundo Keen, estão gerando "menos cultura, menos notícias confiáveis e um caos de informações inúteis".
Graças ao livro, Keen tornou-se uma espécie de anticristo entre os blogueiros, sendo chamado desde "prostituta das grandes corporações" até "um mastodonte rosnando contra os ventos da mudança".
Em entrevista à Folha por telefone, ele explicou suas idéias e por que, mesmo com toda sua crítica, tem um blog.

FOLHA - O sr. fala em "darwinismo digital" para descrever o funcionamento dos blogs.
ANDREW KEEN - Sim, é a sobrevivência do mais adaptado, o que, no caso dos blogs, significa os que escrevem mais. A blogosfera é muito competitiva e masculina, é um jogo em que, para você ganhar, alguém tem que perder. Não é lugar para conversas ponderadas.

FOLHA - O sr. também vê um resquício da cultura hippie na web 2.0?
KEEN - Há um legado hippie na filosofia libertária da blogosfera, no desprezo à autoridade, à mídia tradicional. Acho que a autoridade do Estado, da mídia, são coisas que devemos prezar, porque têm valores significantes que, se minados, criariam a anarquia. A rejeição da autoridade vista nos blogs não é progressista, é anarquista.

FOLHA - Mas o sr. é contra experiências como o Creative Commons [sistema de licenciamento de obras artísticas pela internet]?
KEEN - Acho que é um movimento que inclui moderados e radicais. Eu o respeito, mas temo que ele esteja desvalorizando a credibilidade da propriedade intelectual. Acho que a idéia funciona quando você é um sofisticado professor de direito como Larry Lessig [criador do Creative Commons], mas me preocupa que as pessoas se apóiem em um conceito como o que ele criou para roubar idéias alheias, me inquieta essa permissividade geral em relação aos direitos autorais, em especial entre os jovens.

FOLHA - É isso que causa o que o sr. chama de "assalto à economia"?
KEEN - Talvez eu tenha estabelecido, no livro, muita causalidade entre a ascensão da nova mídia e o declínio da tradicional. As novas mídias são uma das causas do declínio, mas a indústria de música, os estúdios de Hollywood, os grandes jornais e TVs têm outros problemas. Dito isso, acho que deveríamos prezar pela existência de mídia tradicional.

FOLHA - Mas não é apenas a falta de adaptação às novas tecnologias que prejudica a mídia tradicional?
KEEN - Não me oponho à tecnologia, entendo que ela sempre muda tudo e que temos que mudar com ela. Mas nem todo avanço tecnológico é bom e, em algumas circunstâncias, pode ser bom gerenciar ou conter as mudanças tecnológicas, se elas minam a sociedade. A Escola de Frankfurt se mostrou correta, emburrecemos nossa cultura e me preocupa que a internet continue fazendo isso, acabando com nossa vitalidade cívica e com a economia do entretenimento e da informação.

FOLHA - Por que a "democratização da internet" é falaciosa?
KEEN - Porque há novos oligopólios anônimos na rede, nos jogos on-line, nos pequenos grupos de ativistas que editam a Wikipedia, nos poucos blogueiros que dominam a maior parte dos acessos entre os 70 milhões de blogs. Não vejo como a web 2.0 está democratizando a mídia, acho que acontece o oposto: a mídia tradicional fornece informação de qualidade acessível às massas e não acho que a segunda geração da web esteja reproduzindo isso.

FOLHA - O fato de o sr. ter um blog não é paradoxal?
KEEN - Tenho blog para vender o livro e construir minha marca. A internet é uma grande plataforma de marketing, mas é preciso ter algo por trás. Meu livro não defende que as pessoas não tenham blogs, apenas que não finjam que são substitutos da mídia tradicional ou representantes de fontes de informação confiáveis sobre o mundo. Como as pessoas saberiam da crise aérea brasileira, por exemplo, sem jornalistas profissionais? Iam ter de se basear em blogueiros, que podem ser representantes das companhias aéreas ou do governo?

Viva a bossa, viva a palhoça. Tropicalismo revisto por jovens


Bela matéria publicada na "Folhateen" de hoje sobre fãs teens do Tropicalismo.
Um trechinho:

comportamento
Órfãos do tropicalismo
Fãs do movimento que mudou os rumos da cultura brasileira em 1967 falam sobre a influência em suas vidas
LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Final dos anos 60, auge da ditadura militar no Brasil. Na música, os discursos políticos e a valorização da cultura nacional dominavam o cenário. Em meio a isso, um grupo que reunia músicos baianos novatos, roqueiros paulistas adolescentes, um maestro erudito e uma musa da bossa nova decidiram misturar rock, guitarras psicodélicas, ritmos regionais e pérolas do cancioneiro brega nacional.
Criavam assim um dos mais influentes movimentos artísticos brasileiros, a tropicália (leia mais nas páginas 8 e 9).
Quarenta depois de sua ascensão e queda, ela ainda influencia e inspira adolescentes -que nem eram nascidos na época-, como o estudante André Lombardi, 17.
"Sempre gostei de rock de garagem e de punk e nunca consegui apreciar muito a música nacional. Depois de conhecer a tropicália, me abri para um monte de coisas brasileiras", diz o garoto, que toca na banda de rock Arquiduques e passou a compor músicas em português.
Mas a descoberta não foi tão simples. Ele confessa que, na primeira vez que ouviu o disco "Tropicália ou Panis et Circenses", achou o som chato. "Tive que ouvir umas três vezes para começar a entender."
No extremo oposto, Paula Montes, 18, que era defensora ferrenha da MPB e tinha um certo preconceito contra o pop internacional, passou a se interessar também pelo rock estrangeiro quando conheceu melhor a tropicália.
A mudança aconteceu depois que ela leu um livro sobre o movimento. "Eles quebraram padrões e tabus quando misturaram a música brasileira com elementos de fora", diz.
Amiga de Paula, Luiza Colonnese, 18, concorda: "Acho muito criativa essa mistura de ritmos. Foi um dos movimentos artísticos mais inovadores."
Para o estudante Tomás Bastos, 17, -que está fazendo uma monografia sobre o tropicalismo para a escola- o principal mérito do movimento foi a abertura para outras culturas.
"Hoje em dia, com a globalização e a internet, isso é meio inevitável. Mas, naquela época, aceitar influências externas foi um rompimento", observa.

Críticas
Como conseqüência desse rompimento, os tropicalistas foram criticados por intelectuais, por artistas e pelo pessoal adepto das canções de protesto.
"A galera mais de esquerda começou a policiar, dizendo que eles eram alienados. Mas eles tinham uma consciência política, só que não faziam parte de nenhuma doutrina. Colocavam a arte em primeiro plano. Para mim, essa é a parte mais bonita", diz André Mourão, 17, que também estudou o movimento na escola.
Para Pedro Cipis, 17, artistas como Caetano, Gil e Tom Zé souberam respeitar o legado tropicalista ao longo de suas carreiras. "Eles não têm preconceito com nenhum tipo de música. Até hoje gravam canções consideradas bregas, se apresentam com cantores populares", diz.

Jovens roqueiros
Tatá Aeroplano, 32, das bandas Cérebro Eletrônico e Jumbo Elektro, também reconhece a influência do movimento na música atual. "Ele marcou profundamente uma época e, ao mesmo tempo, é contemporâneo. Sua essência parece que se torna cada vez mais forte para as novas gerações", diz.
Bonifrate, 26, da banda carioca Supercordas, destaca a importância dos Mutantes. "Fiquei chocado quando ouvi pela primeira vez. Já me entusiasmavam timbres esquisitos e estruturas imprevisíveis de canções. Mas nunca havia imaginado algo assim".

-----------------------------------------------
Com GUILHERME BRYAN , colaboração para a Folha .

Se quiserem ler mais, comprem a Folha paulista, pois não estou aqui pra pagar assinatura e ficar dando informação de graça pra vocês. Além disso, estou com pressa, pois preciso trabalhar.

Rindo de quê? Faltou assessoria





1) Todos viram essas fotos. O Globo fez bem jornalisticamente em publicá-las juntas, na capa. Isso é Jornalismo. Que infelicidade das autoridades. Parece esse pessoal que vai a enterro de amigo e fica rindo no velório! Uma "assessoriazinha" bem feita ia bem. Não foi à toa que nos dias seguintes "choveram" mensagens na seção de Cartas de O Globo.

2) Já a capa de hoje (segunda-feira) destacando a fracassada manifestação contra o governo Lula promovida pela elite paulista, é muito infeliz. Manipulação antiga e manjada. Milhares são "cerca de 6.500", segundo cálculos da PM de São Paulo. Nem a Folha paulista, que chamou o movimento de "passeata pelas vítimas" do acidente do avião da TAM, entrou nessa. Ai, ai, ai pessoal amigo do Globo! Isso se fazia no tempo do Brizola por alguns repórteres ultrapassados.

domingo, 29 de julho de 2007

Reflexões sobre o Jornalismo e o Ensino do Jornalismo: "Mentalidade Fordista"

Participo de um grupo de debates (lendo mais do que escrevendo) com professores de Comunicação de todo o País, promovido pela FNPJ (Federação Nacional dos Professores de Jornalismo - Rio de Janeiro/Espírito Santo). Destaco o texto da professora Ivana Bentes, da Escola de Comunicação da UFRJ no debate "Impasse do Jornalismo e diploma -O Futuro dos Cursos de Comunicação". Ressalto que é um texto coloquial (dentro de um debate com outros professores) e que não foi escrito em forma de artigo. Mas vale a pena ler a reflexão.

"Queria começar lembrando aqui que devemos realmente pensar numa qualificação do ensino superior independente da origem, pública ou privada. Foi, por exemplo, o equivoco dos que criticaram o PROUNI, por fomentar bolsas públicas em intituições
privadas, uma excelente entrada do governo na caixa preta das intituições privadas, que devem sim ter politicas públicas.

1) Sobre o perfil do professor de Jornalismo e Comunicação. Na ECO, que vai
muito bem, com a procura por Comunicação só perdendo no Vestibular para
Engenharia e Engenharia do Petróleo (é o segundo curso mais procurado), as
habilitações que mais cresceram foram Rádio e TV (que estamos reformatando
para Audiovisual), onde o perfil dos professores é prático/teórico sabem
fazer e prezam e utilizam teoria em aulas práticas e laboratórios. São os perfis "hibridos", jovens doutores e não tão jovens que transitam pela teoria e pela prática (e não precisa ter ficado anos em redação, isso é uma mistificação).

2) Justamente, hoje, para fazer web site, aprender a escrever (blogs explodindo), usar uma câmera digital de vídeo, fotografia, etc NÃO precisa de curso superior de jornalismo! Acabou, ninguém vai entrar numa universidade para isso! Ou os cursos oferem algo mais ou realmente esse perfil "técnico" me parece que já está em crise. Para dominar as tais "funções do jornalismo" não precisa mais de 6 meses de prática. Essa história dos "velhos homens de imprensa", que dizem que é preciso 10 ou 20
anos de "redação" não tem sentido com a massificaçãon de um ambiente "jornalistico" de "comunicação", como a internet. A redação hoje é a INTERNET. A expertise para jornalistas está acabando. Esse instrumental todo é a condição básica para qualquer pessoa trabalhar hoje!. Não precisa mesmo de 4 anos para isso! Tem que mudar o ENSINO. Tem que agregar análise simbólica, de linguagem, de conteúdo, etc.

3)O que precisa hoje, no mercado, não é de jornalista copy/paste é de gente capaz de analisar informação, resignificar, produzir informação nova com o banco de dados na internet, filtrar. O jornalista que funciona como "terminal burro" (só a expertise técnica) vai dançar, nem o mercado quer. O capitalismo hoje é de "conhecimento".

4) Sindicatos. Como você sabe estou na direção da ECO e tenho falado publicamente CONTRA o diploma de jornalista. Esse diploma não é necessário, é uma exigência puramente CORPORATIVA. Como vc bem disse publicidade não pára de crescer e NUNCA teve diploma. Acabar com o diploma não significa acabar com os cursos (senão o curso de Publicidade não existia), mas REQUALIFICÁ-LOS. Ou seja, hoje, na ECO muitos alunos fazem todo o curso de Comunicação, com habilitação em Televisão, por exemplo, e voltam para fazer mais 2 anos só pela exigência corporativa do diploma. Esses alunos de outras habilitações estão plenamente qualificados para escrever texto (tem
inclusive mais chance no mercado porque dominam multimídia, vídeo, web-design e tem a formação teórica (se as empresas quisessem jornalistas "copypaste" nossos alunos não eram os mais procurados nas seleções da Globo, GloboNews, eles são caçados pelo celular, porque têm "melhor formação" na fala dos empregadores.

5) Precários. O trabalho com carteira assinada responde por uma porcentagem infima do trabalho que o jornalista e profissional de Comunicação vai exercer. O velho "free lancer", que chamamos hoje de "precariado", o precário, é a condição do produtor de Comunicação (e de outros trabalhadores). Os cursos não formam para isso, para o aluno CRIAR o próprio emprego e ocupação. Os cursos ainda têm a mentalidade FORDISTA, de linha de montagem para grandes empresas que está acabando, hoje, no capitalismo do conhecimento, da autonomia, precarização, mais também das chances de novas ocupações, da liberdade (sem carteira assinada, mas com mais autonomia).
Esse aluno "da linha de montagem" está ferrado, vai se dar mal no mercado. Essa instituição e mentalidade "fordista" é o que está em crise.

6) Falo contra o diploma e contra a postura dos sindicatos que só defendem quem tem "carteira assinada" deixando o free lancer, o precário, que é a grande massa hoje dos formandos (inclusive os jovens doutores demitidos pela Universidades privadas depois da avaliação do MEC, para economizar).

Se os professores de instituições privadas não podem fazer essa análise publicamente, se não podem discutir novas formas de contratação dos jovens doutores, se não podem denunciar e alardear a crise financeira das universidades privadas, não sai uma linha disso na Mídia (a crise e a suspensão de salários das Universidades privadas, como os professores que são jornalistas não botam isso na imprensa?) que usem suas Assoociações, como essa aqui, que procurem os colegas de instituições públicas, pois nós podemos falar dessa crise, podemos levar a Intercom, Compos, FNPJ sem perdermos o emprego.

Bem são essas as minhas ponderações e provocações para pensarmos juntos. Ótima essa discussão toda!"

sábado, 28 de julho de 2007

A Imprensa não perdoa!


Deu no blog do Ancelmo.
O PAC de Vilma
"A governadora Vilma Maia, do Rio Grande do Norte, estava hoje, digamos, à vontade no lançamento do PAC, em Natal. Já Lula, não.
Com todo o respeito".


"Remember" Hillary Clinton e aquela princesa japonesinha! Quem foi meu aluno, lembra.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Em todo lugar tem alguém da FACHA. Até no PAN


Nossa colega Isabelle Ramos está participando do PAN como voluntária. E escreveu um belo texto para o Jornal de Debates - sobre as vaias.
http://www.jornaldedebates.ig.com.br/index.aspx?cnt_id=15&art_id=9818

Dica do blog: livro sobre Jornalismo e Literatura


Livro relaciona jornalismo e literatura
A jornalista e crítica literária Cláudia Nina lança o livro "Literatura nos jornais: A crítica literária dos rodapés às resenhas", publicação da Summus Editorial. A obra reúne as características que identificam uma resenha e, ainda, apresenta os componentes necessários para compor uma boa crítica. Em suas 96 páginas, Cláudia critica jornais e periódicos culturais, defendendo a idéia de que eles perderam seu caráter polêmico e contestatório. O livro, segundo a autora, colabora para aprimorar o jornalismo cultural.

Fonte: Portal Imprensa

Ainda não está à venda. Nem consta no site da editora. Mas parece interessante.

Dica do blog: Deu no Observatório da Imprensa

OI NA TV
Mídia se comporta bem na crise aérea
Por Karla Candeia em 25/7/2007
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=443JDB028

Infográfico do acidente da TAM

Muito interessante e tem a ver com as aulas de Secretaria Gráfica. Está dando no blog do meu querido amigo Jorge Antonio Barros, no globoonline.

"Vôo 3054
"El País" faz reconstituição vídeográfica do acidente


O jornal espanhol "El País", considerado um dos melhores do mundo em infografia, fez uma excelente reconstituição vídeográfica do acidente de Congonhas, inclusive com ângulos diferentes. Vale a pena conferir. Clique aqui para baixar o infográfico em movimento".
http://www.elpais.com/graficos/internacional/Accidente/aereo/Brasil/elpgraint/20070718elpepuint_1/Ges/

Dica do blog: palestra sobre crônicas

o jornalista, escritor, cronista e colunista do jornal O Globo, Joaquim Ferreira dos Santos fala sobre: "O universo das crônicas e cronistas"
Domingo, 29 de julho, Travessa do Shopping Leblon, às 19h.

Confira a programação completa em:
www.casadosaber.com.br/travessa

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Falando de títulos - de novo! E como sempre

Carlinhos Brickman, jornalista paulista, de quem publico pequeno texto abaixo, destaca alguns títulos em seu artigo no Observatório da Imprensa. Escreve Carlinhos:

Há coisas boas na semana. Comecemos por um título ornitológico:

"Gallo não garante Pato como titular no Inter"

Há um título enigmático:

"Rival do Brasil deixará marido dividido no vôlei"

E há um título imbatível:

"Juiz acata denúncia do Ministério Público, acusa presidente Alberto Dualib de lavagem de dinheiro e pede prisão de Kia"

O título é fantástico porque juiz não acusa, julga. E não pede, determina.

O futuro do Jornais

O futuro dos jornais
Carlos Brickmann
Fonte: Observatório da Imprensa

Depois de calar-se, de reunir-se, de dizer a amigos que estava ofendido com as vaias no Pan, o presidente Lula finalmente falou à nação. Seu discurso foi divulgado pelo rádio, de manhã, comentado pelo rádio, pela TV, pela internet o dia inteiro. E, no dia seguinte, os jornais dão a notícia de que Lula está triste – como se fosse uma grande revelação. Está na hora de repensar o papel dos jornais. Há mais de trinta anos, Alberto Dines espalhou televisores pela redação do Jornal do Brasil, no Rio, para que todos se lembrassem de que boa parte das notícias que tinham em mãos já havia sido divulgada pela TV. Era preciso, portanto, buscar novo enfoque. A situação se tornou hoje ainda mais complexa: não é só a TV, nem apenas o rádio, mas toda a internet divulgando notícias o tempo todo. O jornal tem de reavaliar seu papel: ou hierarquiza e organiza os acontecimentos ou não servirá rigorosamente para nada.

Questão de número
A propósito, os jornais poderiam consultar suas fontes para conferir se o presidente Lula foi vaiado três, cinco ou seis vezes no Maracanã.

Redação e esporro: tudo a ver


Redação de jornal é lugar de levar esporro. Quem trabalha ou já trabalhou em jornal, sabe. Por isso, morri de rir hoje ao ver a foto abaixo no blog do Octavio Guedes, no Extra online. E com o texto:

"BASTIDORES DA REDAÇÃO
Muita gente me pergunta como é o ambiente de trabalho no Extra. Posso assegurar que tem um dos melhores climas de todas as redações do país. Inclusive, acabamos de bater um recorde, como mostra o flagrante".


Hilário!

Mas, cá entre nós, só fiquei preocupado com o assassinato da gramática. Dêem uma olhada com atenção.

Para que serve o jornal?

Vale a pena ler e refletir. Saiu na Folha hoje.

Para que serve o jornal?
CONTARDO CALLIGARIS
No jornal, a vida e a morte das vítimas eram o fato inescapável, sem canções para consolar

SOUBE QUE algo tinha acontecido em Congonhas por um telefonema: alguém, trancado na Washington Luís, desmarcava seu compromisso comigo. Logo abri a página do UOL, com as primeiras imagens e reportagens.

Uma hora depois, estava em casa, na frente da televisão, onde fiquei até tarde, zapeando de especial em especial. A televisão, nas catástrofes, funciona assim: permite que a angústia se multiplique num paroxismo, mas garante que ela será controlada por um fluxo ininterrupto de palavras. Explico.
Mesmo que não haja nenhuma notícia nova, a televisão não pára de reapresentar as mesmas imagens e as mesmas informações. A maioria dos espectadores fica olhando, horas a fio, uma repetição infinita. A repetição das imagens parece impor uma experiência extrema: "Veja e viva o horror até não poder mais; foi ISSO o que aconteceu...".

Mas a repetição dos comentários produz o efeito oposto. Os repórteres e as entrevistas não nos dei- xam sós, nunca: "Console-se, não há horror que não possa ser encoberto por palavras". Quando era criança, eu tinha medo de caminhar à noite, sozinho, no campo; o remédio era cantar em voz alta. Funcionava; assim como funcionam as palavras das reportagens.

Três apartes:
1) Em caso de catástrofe, as propagandas deveriam ser retiradas do ar. A volta periódica dos comerciais é tão intolerável quanto o horror do acidente: qualquer objeto de propaganda se torna um símbolo odioso de nossa leviandade.
2) A vontade de denunciar e achar culpados é justa depois de um acidente. Mas sua pressa é mais uma maneira de cantar no escuro: suprime o tempo da meditação, transformando a dor em raiva. E uma grande parte dessa raiva é projetiva; ela é, de fato, contra nós mesmos, que amanhã subiremos num avião, simplesmente para sair de férias. Queremos logo execrar um culpado para não pensar nem um pouco no custo da vida que inventamos e queremos para nós. Há uma velha "piada" que pergunta assim: se um marciano nos propusesse uma invenção que facilita o transporte de mercadorias e pessoas, mas pedisse, em compensação, que sacrificássemos 400 mil jovens por ano, o que você responderia? Nunca aceitaríamos essa troca indigna, não é? Esse é o número de jovens que morrem, no mundo, em acidentes de trânsito, a cada ano.
3) Um exemplo do efeito-tampão produzido pela urgência da caça ao culpado foi o gesto obsceno de Marco Aurélio Garcia e de seu assistente ao aprenderem que talvez uma falha da aeronave fosse responsável pelo acidente. Àquela altura, para Marco Aurélio Garcia, a questão da culpa e a necessidade de tirá-la das cos- tas do governo já eram as únicas coisas relevantes nessa história. Ele conseguiu, assim, esquecer-se dos mortos (e do avião no qual ele su- birá amanhã).

O exemplo é excessivo, mas pertinente: os burocratas nazistas podiam "ignorar" a carga dos trens destinados aos campos de exter- mínio, preocupando-se somente com o bom cumprimento do horário ferroviário. Volto ao assunto. Nos dias seguintes ao acidente, eu imaginava que o jornal da manhã não me traria nada que eu já não tivesse escutado na televisão ou lido na internet. Velha história: o jornal perdeu a batalha da notícia quente, e isso prometeria seu declínio.

Aconteceu o contrário. Entre os meios de informação, foi o jornal que ganhou. A escrita não tem as "virtudes" duvidosas da palavra oral: ela não espanta os fantasmas. E há uma outra razão.

Penso no especial da Folha do dia 20: os retratos das vítimas, os artigos que contavam brevemente sua vida, que nos diziam por que viajaram, o que elas esperavam e quem os esperava, de quem tinham se despedido, qual desamparo elas deixavam atrás de si, tudo isso devolvia às vítimas uma dignidade concreta que se perdia nas reportagens da TV e da internet.

Acima da indignação, das explicações, das acusações, dos planos para mais segurança no futuro, era nas páginas do jornal que a vida e a morte reais se mantinham e se impunham como o fato inescapável, sem canções para se consolar.

Enfim, um toque de humor negro. No caos aéreo, a gente viaja, mas não sabe quando nem se chega. É um sucesso pedagógico: uma administração que, nesse campo, atua sem compromisso com os cidadãos conseguiu produzir cidadãos à sua imagem, incapazes de honrar seus compromissos.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Entrelivros nas bancas


Também leio a revista Entrelivros. Acaba de sair edição nova, de agosto. Como destaque, a matéria de capa: "Memórias da Guerra".

Conteúdo: O maior conflito do século XX nas novas obras de Norman Mailer, Günter Grass e Jonathan Littell; De Anne Frank a Primo Levi, os sobreviventes que registraram por escrito angústia, dor e esperança; Na literatura de testemunho, a tentativa de superar o trauma e a constatação de que é impossível representá-lo; Como a literatura alemã rememorou a Segunda Guerra Mundial durante décadas e agora, finalmente, se renova; O homem que inventou uma memória do Holocausto e conseguiu enganar muita gente, mas não por muito tempo.

Língua nas bancas


Revista Língua Portuguesa nas bancas. Sempre uma boa leitura para estudantes, professores e jornalistas. Interessante a matéria sobre os "Códigos do grampo". Publico um trecho a seguir:

Os códigos do grampo
Rachel Bonino
Escutas telefônicas da Polícia Federal revelam a criatividade e as trapalhadas de quem produz vocabulários e expressões para não ser pego pela língua solta

Corrupto que é corrupto não usa telefone, que escuta telefônica bem-feita pega bagre e bagrinho. Mas quando usa, esbanja curiosos exemplos de criatividade bandida. A constatação é da Polícia Federal: recentes conversas grampeadas nas mais diversas ações trouxeram à tona uma modalidade de linguagem própria da contravenção, antes reservada ao submundo do crime e do meio policial.

Diálogos cifrados entre juízes, traficantes, assassinos e deputados revelaram pérolas do tipo "entregar o travesseiro" (pagamento de corrupção), "gastos com a reforma da igreja" (propina), além de palavras descontextualizadas, como "tios" (pessoas corrompidas) e "bingo" (morte confirmada), que enriquecem o vernáculo criado diariamente para esconder ações ilícitas do Brasil atual.

Ao contrário de muitas gírias, que podem passar de geração para geração, as criadas no calor do crime costumam ter vida curta, ao sabor da existência de uma quadrilha.

Um membro da Polícia Federal que já trabalhou em ações nacionais e prefere não se identificar garante que as expressões mudam muito e são muito específicas, variando de acordo com a região. Quando uma quadrilha cai, aquela linguagem desaparece com ela, explica o informante. A criatividade seria um pré-requisito para a delinqüência de colarinho branco.

Os especialistas não têm ainda uma descrição unânime do fenômeno. Para o professor Ataliba Teixeira de Castilho, da USP, a maioria das novas expressões cifradas pode ser identificada como metáfora, já que transferem o sentido de um termo para um outro. Na Operação Vampiro (fraudes na licitação de hemoderivados no Ministério da Saúde, em 2004), os partidos descritos nas conversas telefônicas foram chamados de "condomínio" e os deputados, "inquilinos" ou "carros". (...)

Quer ler mais: compre a revista ou clique: http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=11346

Aula de Jornalismo (Sobre Pauta)

IMPRENSA À DERIVA
Onde a pauta? A pauta acabou?
Luiz Paulo Costa (em 24/7/2007)

Um dos procedimentos mais importantes na imprensa, em especial a escrita, é a elaboração da pauta jornalística. Elaborar uma boa pauta representa um elevado percentual para uma boa matéria. Lembro-me bem das pautas que recebia como correspondente do jornal O Estado de S. Paulo em São José dos Campos, na década de 1970. Eram elaboradas pelos jornalistas Raul Martins Bastos (chefe do Departamento de Sucursais e Correspondentes), Ariovaldo Bonas e outros também excelentes profissionais de imprensa.

Lembro-me bem de uma pauta do jornalista Raul Martins Bastos, publicada no "Caderno de Jornalismo" do JB. Era citada, por professores de jornalismo e editores que conheci, como exemplo de pauta jornalística. Buscava tornar compreensíveis e acessíveis ao repórter os fatos a desvendar e levá-lo a enxergar os acontecimentos por todos os seus aspectos, ângulos e pontos de vista. Não era pauta apenas de quem conhecia o ofício de jornalista aprendido na escola formal ou da vida, mas de quem apreendeu a cultura jornalística capaz não só de conhecer e descrever os fatos, mas de enxergar as coisas do mundo sob todos os seus aspectos.

Trabalhar com uma pauta bem elaborada facilitava enormemente a coleta de informações e a redação do texto, de forma que o redator (copydesk) pudesse encontrar nas palavras usadas com precisão todo o cenário dos acontecimentos. E os títulos e subtítulos também acompanhavam o ritual jornalístico, reproduzindo exatamente aquilo que a matéria jornalística descrevia para os leitores. Não havia surpresas ou sustos. Nem para o repórter, muito menos para os leitores.

No dia seguinte, as surpresas
Hoje em dia, quando leio os jornais e revistas, fico em dúvida se aquilo que está publicado decorre de uma boa pauta jornalística. Apesar de toda a deficiência que se possa apontar nos cursos de jornalismo, o ofício também é capaz de ensinar através de uma boa pauta. É óbvio que deve haver o acompanhamento, a avaliação e a cobrança do trabalho de reportagem. Mas tudo começa por uma boa pauta jornalística.

E o que dizer do quase total desaparecimento do redator (copydesk)? A redução de custos parece que levou à solução "três em um" (pauteiro, repórter e redator)! Ou, pelo menos, "dois em um"(repórter e redator). A eliminação de estágios intermediários numa linha de produção industrial pode levar à redução de custos e, às vezes, até ao aumento da produtividade sem perda da qualidade do produto. No caso da produção jornalística, no entanto, apenas se os profissionais empregados forem superdotados isto será possível. E eles existem, sim, mas não são tão numerosos a ponto de atender a todo o mercado editorial brasileiro.

E na busca de culpados pela perda da qualidade de jornais e revistas, sobra para os recém-formados, os focas, enquanto os escalões superiores mais preparados apenas escrevem bilhetes. Daí, aqueles que são capazes de escrever bilhetes sem erros ou mesmo alinhavar uma pauta razoável em cinco linhas, acabam induzindo os repórteres a apenas coletar as informações para confirmar a matéria que já está desenhada pelos editores. E, no dia seguinte, as surpresas – para repórteres e leitores. Principalmente nos títulos para interessar os leitores. Mas que nem sempre correspondem aos textos das matérias jornalísticas.

Melhorar a qualidade
Para escrever este artigo, e perguntar se a pauta acabou, li a excelente tese de Cristina Rego Monteiro da Luz, "A pauta jornalística e suas mediações", apresentada e aprovada no Curso de Doutorado da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Um olhar acadêmico sobre a pauta jornalística, sua elaboração e estrutura. Defende a tese de que a pauta, generalista ou por editorias, é um instrumento referencial significativo e inexplorado no estudo sobre o processo de produção da notícia no Brasil. "Recurso organizacional nas redações dos maiores jornais do país, especialmente a partir da década de 50, a pauta revela ideologias, estruturas de poder, injunções políticas, econômicas e sociais ao longo da história da imprensa no país", desvenda a tese. Ali descobri, também, que o cargo de pauteiro foi uma invenção nacional.

Consultando o amigo jornalista Ruy Lopes e sua vasta experiência, em especial como ex-editor chefe da Folha de S. Paulo, quando lia tudo que seria publicado, dele ouvi que uma boa pauta era uma verdadeira matéria jornalística. Sem dúvida alguma, os jornais e revistas deveriam recriar a editoria de pauta, que existiu no Jornal do Brasil em 1966, tendo como titular o jornalista Fernando Gabeira. Talvez assim melhorasse a qualidade de nossos jornais e revistas, e teríamos menos surpresas e sustos ao lê-los.

Fonte: Observatório da Imprensa

Dica de livro: "Literatura na poltrona"


Trabalhei com o José Castello, no Segundo Caderno de O Globo, no início da minha carreira de repórter. É fera! Sabe tudo de literatura, escreve bem pacas e hoje mora em Curitiba. O Submarino está anunciando por R$ 28,00. Já estou lendo. Leitura fácil e envolvente. Tem um capítulo dedicado a Ernest Hemingway, um de meus ídolos. Abre falando de Clarice Lispector. Indicado para quem quer dar para repórter cultural ou literário. Leiam abaixo a sinopse do Submarino:

"É como se a gente, tal o título do livro, se deixasse embalar macio na espuma maliciosa e densa de uma poltrona ouvindo gigantes da cultura do mundo abaixarem-se atenciosos até nós e sussurrarem explicações envolventes e reveladoras. Essa é a sensação que percorre os capítulos de A literatura na poltrona. José Castello tem essa sutil capacidade de encerrar na sua exegese a voz do escritor que trouxe para reflexão e a do leitor de suas análises. É nesse limiar que o ensaísta se posiciona. É dessa antecâmara que Castello dirige a sua argúcia e mergulha com o leitor, já então seu cativo, num erudito e maravilhoso coral de arte e cultura".

Deu no New York Times! (Dica de livro)


Acabou de sair. DEi uma espiadinha ontem na Livraria da Travessa. Vou comprar. Como digo aos meus alunos, compro (e leio) todos os livros que têm escrito Jornal, Imprensa, Jornalista... Dei uma pesquisada rápida e vi que o Submarino e a americanas.com estão vendendo por R$ 31,00; o Submarino informa que tem promoção de frete.

Sinopse da americanas.com:
"De um jornal se esperam notícias. Mas da capacidade e sensibilidade dos repórteres e editores do New York Times veio muito mais. Este livro traz contos que são autênticos pedaços da realidade, estimulantes e vivos, dramas que fazem das histórias publicadas nesse jornal mais que uma simples narrativa do que aconteceu no dia anterior. Que ensinam sobre conhecer e reconhecer os outros e a si próprio. Espelhos da vida e, ao mesmo tempo, maiores que a própria vida".

Minha mãe me achava lindo!


Meu atento aluno Jorge Pereira mandou essa ilustração minha. Adoro ilustrações. É claro que sou mais bonito. Mas achei muito legal. Jorge diz que é fácil fazer. É só acessar o site do desenho South Park.

http://www.sp-studio.de

terça-feira, 24 de julho de 2007

Dica do blog: "Três irmãos de sangue", O FILME


Meu ex-aluno Marcos Souza, filho do compositor Chico Mário, sobrinho do Betinho e do Henfil e neto da dona Maria, mas, infelizmente flamenguista, avisa sobre lançamento do filme "Três irmãos de sangue". Já vi, gostei e chorei, numa exibição em sala de aula promovida pelo Marquinhos. Não percam. "De grátis", o trailer da fita.

A estréia é dia 17 de agosto e a renda do filme vai para a campanha da AIDS. Será exibido no Rio, São Paulo, BH e Brasília.

Novas Tecnologias - Digiclip




O Comunique-se está divulgando e comercializando. Interessante.
DigiClip
O clipping de TV e Rádio do Comunique-se
O DigiClip, a solução do Comunique-se para clipping de TV e Rádio, entregue com qualidade digital e rápido mesmo.

Problema:
O Brasil possui vários canais importantes em TV aberta e por assinatura, além de relevantes estações de rádio. Ao longo de um único dia, diversas matérias vão ao ar, citando empresas e negócios. Essas empresas, por sua vez, precisam obter cópias deste material, para acompanhamento e controle.

Solução:
DigiClip é o produto do Comunique-se para monitoramento de mídias eletrônicas (TV e Rádio). Pode ser contratado de forma avulsa ou recorrente. No modelo avulso, o cliente indica o que quer e o DigiClip entrega. No modelo recorrente, o DigiClip fará um monitoramento contínuo dos canais de TV e rádio.

Como Funciona:
Você acessa o link abaixo e preenche um formulário especificando seu pedido de clipping digital, além de fornecer seus dados para contato. O pedido é encaminhado para o Comunique-se que inicia o processamento de sua solicitação. Se seu clipping for localizado, você recebe um aviso e o orçamento da solicitação. Se o clipping não for localizado, você é igualmente notificado.

A partir da confirmação de seu pagamento, o Comunique-se providencia o envio de seu clipping, por e-mail como no exemplo ao lado.

O arquivo vem em formato digital, e você poderá visualizá-lo em em seu browser e efetuar download do mesmo.

Vantagens:
O clipping em formato digital oferece inúmeras vantagens em relação à mídia de clipagem tradicional. Com formatos em vídeo digital fica mais fácil distribuir e divulgar, caso queira, esse material. O tempo de clipagem também é sensívelmente mais rápido, que os métodos tradicionais.

Fonte: Comunique-se

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Desaconselhável para quem tem a sensibilidade de um alface


Navegando, bateu uma nostalgia de Lisboa. Que cidade. Gosto de música. De rock, de jazz, de tango, de fado... Navegando no youtube fui procurar cantora portuguesa Mafalda Arnauth, que nosso saudoso professor e amigo Roberto Moura conhecia (e também gostava), descobri Mariza. Dizem que o fado é triste; e é mesmo. Portanto, se algum cérebro de alface preconceituoso pintar por aqui, não ouça Mariza. O blog é meu, pô!!!

Dica do blog: livro "A Reputação - A velocidade do pensamento"


Estou lendo, finalmente, pois comprei no ano passado. Já passei da metade. Escrito pelo Mário Rosa, mesmo autor de "A era do escândalo". Fala sobre imagem e tecnologia. Tudo a ver com estudantes, jornalistas e professores de Jornalismo. A FNAC está vendendo na Internet por R$ 34,90, sem frete (o preço mais barato que encontrei).

Dica do blog: Encontro de Assessores de Imprensa em Itaipava

Assessores se reúnem no Rio
O Sindicado dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro (SJPMRJ) recebe, até o dia 27, inscrições para o VI Encontro de Jornalistas em Assessoria de Comunicação do Rio de Janeiro (Enjac-Rio), que terá como tema "Assessoria de comunicação na era digital". O evento acontecerá de 24 a 26 de agosto, no Hotel Vale Real, em Itaipava. As inscrições podem ser feitas pelo site www.jornalistas.org.br.
Mais informações pelo telefone (21) 3906-2450.

Aula - Grandes coberturas


Estava fora do Rio e não pude postar este recorte no dia em que saiu. Mas é atualíssimo. Foi publicado naquela interessante coluna do Globo, "Por dentro do Globo", publicada quase que diariamente na página 2. Dessa vez, o assunto é a cobertura da tragédia de Congonhas. Uma verdadeira micro-aula. Vale a pena ler. Participei de muitas coberturas parecidas, à época em que trabalhei no Globo, inclusive a da "Bomba no Riocentro", que acabou virando livro da Belisa Ribeiro. Fui entrevistado pro livro, com direito a foto e atualização anos depois.

sábado, 21 de julho de 2007

Carta Capital, IstoÉ, Época e Veja e a tragédia de Congonhas





AS semanais, como era de se esperar, dão capa pro acidente do avião da TAM. A Veja, aquela estranha revista que abriga hoje Diogos e Reynaldos, abriu espaço na capa pra morte de "Toninho Malvadeza".

Caros Amigos entrevista prisioneiros de Guantánamo. Será mesmo?



"Caros amigos" nas bancas informa que entrevistou três ex-prisioneiros de Guantánamo. Espero que o gato não seja lebre, como na edição passada, em que anunciaram uma "entrevista" com Gabriel García Márquez que não passava de um olhar de uma tiete que participou de um jantar com o escritor colombiano. Fiquei incomodado com aquilo, falei com meu querido amigo e ex-aluno Marcelo Salles, que escreve para a revista. Tadinho do competente Marcelo. É ele que sempre ouve as minhas queixas contra a revista. Sou assinante e recebo sempre vários dias após a revista chegas às bancas. Fora a camiseta que ficaram me devendo e não entregaram até hoje. Mas mesmo assim continuo leitor de Caros Amigos.

Um resumo da entrevista publicado no site da revista: http://carosamigos.terra.com.br/

EXCLUSIVO – O depoimento de três ex-prisioneiros de Guantánamo
"O repórter mineiro Silvio Carvalho foi parar em Tipton, norte da Inglaterra. Localizou Shafiq Rasul, um dos Tipton Three, três jovens da cidadezinha que passaram pela infernal prisão de Guantánamo. Em Londres, Silvio encontrou dois outros ingleses que viveram o mesmo infortúnio – um dos quais convertido do catolicismo ao islamismo. O relato dos três confirma que Guantánamo é mesmo um campo de torturas. Um deles, ferido e sem tratamento, perdeu o braço e dedos de um pé. “Os soldados sempre nos espancavam nas celas”, diz outro. Contam que cuspiam e urinavam no leite, atiravam o Alcorão no chão e o chutavam".

Política americana? Tô fora!

No post abaixo, um texto interessante de Frei Betto publicado na mesma edição.

Dados curiosos, Frei Betto (Caros Amigos)

Dados Curiosos
Frei Betto

No Brasil, reduzir o analfabetismo entre mulheres em apenas 1 por cento equivale a evitar 415 mortes por ano. Aumentar em 1 por cento a rede de esgoto significa evitar 216 mortes/ano. Se o número de casas que recebem água tratada aumenta 1 por cento, 108 mortes são evitadas/ano. E, se o número de leitos nos hospitais aumenta 1 por cento, 27 mortes são evitadas/ano. Os dados são do estudo de Mário Mendonça e Ronaldo Motta, Saúde e Saneamento no Brasil, Ipea, 2005. Duas em cada cinco pessoas no mundo vivem com menos de 6 reais por dia. Não têm acesso ao saneamento básico 2,4 bilhões de pessoas. Metade das infecções por HIV ocorre entre jovens.

Neste ano de 2007, pela primeira vez, há mais habitantes nas zonas urbanas que nas rurais. Em 2015, teremos 22 megacidades com mais de 10 milhões de habitantes cada, das quais dezesseis em países pobres. Em 2030, 60 por cento da população viverá em centros urbanos, o que equivale a 5 bilhões de pessoas. Em 2050, o planeta terá 8,9 bilhões de habitantes (fonte: Relatório sobre a Situação da População Mundial, ONU).

Nos EUA são gastos, anualmente, cerca de 60 bilhões de dólares em produtos de beleza. Na Europa, 50 bilhões de dólares/ano no consumo de sorvetes.

Tome em mãos dez moedas. Cole uma etiqueta em cada uma, numerando-as de 1 a 10. Ponha-as no bolso. Agora tente pegar a de número 1. Você tem uma chance em dez. Tente pegar a 1 e, em seguida, a 2. Sua chance é uma em 100. Se quiser pegar a 1, a 2 e a 3, em seqüência, a chance cai para 1.000. E você tem uma chance em 10 bilhões de pegá-las todas em seqüência. Segundo Cressy Morrison, que presidiu a Academia de Ciências de Nova York, são necessárias as mesmas condições para a vida na Terra ter acontecido por acaso. Maior “milagre”, caro(a) leitor(a), é você e eu estarmos aqui.

Na vida dos políticos, os números também são intrigantes. Lula é marcado pelo 13. A mãe vendeu a terra em que morava por 13 contos de réis. A viagem de pau-de-arara de Garanhuns a São Paulo, em 1952, levou 13 dias. O número do PT é 13. Ele foi eleito presidente no 113º ano da República.

Fidel nasceu em 1926. Em 13 (metade de 26) de agosto. Tinha 26 anos quando iniciou a revolução em Cuba, com o assalto ao quartel Moncada, em Santiago de Cuba. Isso ocorreu no dia 26 de julho de 1953.

Na natureza, a decomposição do papel leva de 3 a 6 meses; dos tecidos, de 6 meses a 1 ano; dos chicletes, 5 anos; da madeira pintada, 13 anos; dos plásticos, 500 anos; do vidro, 1 milhão de anos; da borracha, tempo indeterminado.
Uma tonelada de aparas pode substituir quase 4 metros cúbicos de madeira. A reciclagem evita a morte de cerca de 30 árvores.

Para fabricar 1 tonelada de papel no processo tradicional são necessários 100.000 litros de água. Se o papel é reciclado, bastam 2.000 litros.
Caro(a) leitor(a), elenquei esses dados porque talvez um deles seja do seu interesse. Se não for, azar nosso.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

"Meninas do vôlei entregam o ouro"

Belo título publicado no globo online dessa derrota triste e incrível do Brasil para Cuba. Mas está em boas mãos. Não gosto é de perder pra americanos e argentinos.

Maurício Menezes deu



"Numa redação, todas as vezes em que um repórter chegava com uma notícia sem fundamento ou absurda, os mais sacanas costumavam gritar: "parem as máquinas". Era o mesmo que dizer que o jornal não poderia circular sem aquela informação, que seria algo de "extrema importância para a humanidade".

No teatro, dedico uma parte da apresentação a esse tipo de notícia. Coisas de ciências, do tipo "por que a pipoca pula na panela" ou então uma pesquisa sobre o sotaque dos animais, ou mesmo outra , sobre vacas que foram condicionadas a atender telefonemas...

Agora, acabo de encontrar mais uma desse tipo. Muita gente, de todo o Brasil, me mandou cópia dela. "Terra é menor do que se imaginava", diz a manchete. Cinco centímetros a menos, informa o texto logo abaixo. E mais: somos informados de que a descoberta foi feita por "um grupo de cientistas". E o interessante é a informação de que a Terra é "menor do que imaginávamos". Mas eu, pelo menos, nunca imaginei nada desse tipo de coisa.

Mas graças a Deus logo depois vem uma informação para a nossa tranquilidade: "isso não significa que a terra esteja encolhendo". Ai, graças a Deus. Que susto!

Outro dia eu li que depois do Tsunami, a terra ficou mais arredondada. Antes, tinha lido que um asteróide vai passar muito perto da terra, dentro de 50 milhões de anos, mas que não há nenhuma possibilidade de colisão.

Fica aqui uma pergunta: tudo bem que os jornais colaboram, publicando essas coisas.. Mas será que os cientistas também não tem coisas mais úteis para fazer?"

(Maurício Menezes, jornalista e "cômico" - não confundir com...)

HQ na CS domingo

a historiadora
Isabel Lustosa fala sobre a sua paixão:

"História das histórias em quadrinhos"

"Entram em cena, em uma linha temporal e afetiva, os quadrinhos que fizeram história, como a obra genial de Will Eisner e de Al Capp, as publicações Revista Luluzinha e O grilo, e muitas surpresas, como a descoberta dos desenhos de Crumb na capa de um disco de Janis Joplin".

22 de julho, domingo, Travessa do Shopping Leblon, às 19h. 30 paus o ingresso. SE alguém puder ir, me conta depois.

Confira a programação completa em
www.casadosaber.com.br/travessa

Curadoria: Cristiane Costa

Fui furado no caso do Citroen do guarda de presídio



Pô! O Mestre Ancelmo furou o meu pensamento hoje em O Globo. Foi na nota do agente penitenciário dono de um carro Citroen. Li a notícia ontem e pensei: "Pô! Esse carro deve custar uma grana! Como pode um guarda de presídio ter um Citroen?". Ancelmo, bom repórter que é, foi atrás e chegou na frente. Calculou que o carro deve custar uns 80 paus e deu a nota na sua coluna.

Fico puto quando não sigo o meu "filingue". Fiquem atentos. Bobeou, dançou.

Mas vou ser sincero, como sempre: prefiro aqueles velhos citroens pretos da minha adolescência; sonhava com um. O Aluíso Maluco tinha um.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Jornalismo na Web, por Alberto Dines

JORNALISMO NA WEB
Clique no ão e veja como a internet brasileira ainda é inha
Alberto Dines (em 17/7/2007)

O Estadão foi o primeiro jornalão brasileiro a experimentar as novas tecnologias de informação, ainda no início dos anos 90, antes da Abril começar o BOL e a Folha lançar o UOL. Depois de diversas experiências digitais, o Estado lançou na segunda-feira (16/7) a campanha de publicidade do seu novo portal de notícias.

Capa e contracapa em papel especial, seis páginas inteiras no caderno "Metrópole", tudo pensado para arrasar. Deu azar, pelo menos em São Paulo: fortes chuvas na parte da manhã interromperam o fornecimento de energia elétrica em diversas regiões da cidade, as operadoras de telefonia baquearam e o "sistema" escancarou suas precariedades. Houve panes de até 20 minutos. Não é novidade: no final das tardes de sextas-feiras, quando aumentam os acessos, o "sistema" também engasga.

Enquanto os jornais já anunciam a sua própria morte e se conformam em entregar o bastão à Internet, esta não consegue superar suas dificuldades estruturais. Pelo menos em nosso país. Basta ver a lentidão da oferta da banda larga, ainda circunscrita aos grandes centros urbanos. Basta ver o que Daniel Castro, colunista da Folha, chama de "praga da TV paga" que trafega no mesmo sistema (domingo, 15/7, capa da Ilustrada). Basta ver o número de reclamações contra os serviços telefônicos registradas pelo Procon.

E como se não bastassem as deficiências técnicas, elementares, é preciso reconhecer que o jornalismo digital brasileiro não chega aos pés do rival impresso ou televisivo. Ganha com os blogs políticos, evidentemente mais ágeis do que as colunas impressas, mas perde nas demais modalidades. Nosso jornalismo digital talvez só supere o radiojornalismo, já que as redes de rádio investem ainda menos nas equipes de reportagem (exceto no monitoramento do trânsito).

O portal do Estadão parece clean, por enquanto livre da praga dos pop-ups, empenhado em antecipar os diários do dia seguinte. Mas cada façanha jornalística da internet brasileira produz uma frustração de igual intensidade. Fica clara a distância que a separa dos paradigmas ao quais o cidadão já se acostumou, tanto na mídia impressa como na eletrônica.

Certo da sua inevitável supremacia no futuro, nosso jornalismo digital contenta-se em andar de lado. Quer assumir o seu lado entretenimento, showbiz, antes de impor-se como indispensável ferramenta de informações. A melhor prova disso foi a resignação com que nossos portais de noticias aceitaram a proibição do Comitê Olímpico Brasileiro para não reproduzir imagens em tempo real das provas do Pan.

Clique "ão", proclamam os anúncios do novo portal do Estadão. Mas a sensação geral é de "inho".

Fonte: Observatório da Imprensa

Propaganda enganosa


Mais uma vez vou entrar na do professor Tião. Mas é Comunicação. Deu agora há pouco no blog do Mestre Ancelmo. O texto:

"Não é aquilo que você está pensando. É, acredite, um anúncio veiculado na Europa da grife francesa Sisley, espécie de irmã mais nova da Benetton.

A idéia é sugerir que a roupa é tão boa que deixa quem compra viciado. Parece de mau gosto. E é".

Sobre dowloads e uploads (Deu na Folha)

Downloads e uploads
MARCOS NOBRE
AS PATENTES e a propriedade intelectual ocupam hoje uma posição central na produção capitalista. Os investimentos em invenção e inovação de ponta são de tal magnitude que muito poucas companhias dividem os principais mercados. No mundo virtual da internet, esse tipo de concentração e controle da produção se mostrou até agora impossível. Em seu atual estágio de desenvolvimento, a qualificação necessária para criar novos produtos e serviços se encontra dispersa e disseminada. Um consumidor é ao mesmo tempo um produtor virtual. E, como não há download sem upload, sem a invenção e o trabalho de consumidores-produtores (que fazem os uploads) não haveria fornecedores de serviços (que oferecerem os downloads).
Os gigantes mundiais (Google, Yahoo!, Microsoft) já perceberam isso há muito tempo. Não têm a pretensão de controlar a produção de conteúdos. Pelo contrário, sabem que a disseminação do conhecimento e da tecnologia é a fonte mais preciosa para os serviços que fornecem. Não é por outro motivo que pequenas companhias estão sendo disputadas a peso de ouro. Basta lembrar que um projeto de fundo de quintal como o YouTube foi recentemente comprado pelo Google por mais de US$ 1,3 bilhão.
A defesa de uma radical liberdade criativa no mundo virtual não passa apenas por garantir uma permanente disseminação do conhecimento e das tecnologias ao maior número possível de usuários. Passa também pelo combate à concentração da distribuição e da circulação. Uma das formas atuais dessa disputa é a contraposição entre o modelo da loja virtual de música, a iTunes, controlada pela Apple (ainda neste ano deve começar a funcionar a loja da Amazon também), em que o usuário paga para fazer o download, e o modelo de sites como o eMule ou Kazaa, que permitem o compartilhamento gratuito de dezenas de milhares de títulos.
Essa mesma disputa é travada também em outros campos por modelos colaborativos como os da Wikipédia e do Linux.
Em fevereiro, o presidente da Apple escreveu uma carta aberta às gravadoras com o objetivo de convencê-las a deixar de usar dispositivos de proteção para os chamados "direitos digitais". Na prática, essa música "não protegida" permite em princípio uma reprodução ilimitada, por vários meios e aparelhos. Parece mesmo que Karl Marx (1818-1883) tinha razão em considerar que o capitalismo carrega um vírus autodestrutivo. Pelo menos no mundo virtual, as ameaças à lógica da propriedade privada tal como entendida até hoje são bastante reais.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Dica de livro: pra quem gosta da revista Caros Amigos


Ainda não li. É de 2004. Vou comprar. Mas parece interessante. Ver abaixo "resenha" no Observatório da Imprensa.

CAROS AMIGOS
Livro conta a história da revista

O livro "Caros Amigos e o resgate da imprensa alternativa no Brasil", escrito pelo jornalista e professor universitário Francisco Bicudo (Editora Annablume) apresenta uma primeira fotografia da revista Caros Amigos. Identifica na publicação os elementos e características que permitem afirmar que se trata de uma nova proposta e representante da imprensa alternativa brasileira, que consagra a prática de um jornalismo preocupado com o sentido público da informação. A publicação procura recuperar a prática da grande reportagem, vivida intensamente em outros tempos pela imprensa brasileira, principalmente durante os anos 1960. Aproxima-se, assim, do jornalismo interpretativo, também conhecido como jornalismo literário. Trata-se de um gênero que consagra as narrativas contextualizadas, os textos autorais, a apuração bem feita, o uso de personagens e diálogos, a descrição de cenas, a ambientação, os fluxos de consciência e dramas interiores, a observação participante, as entrevistas-diálogos e a busca das razões e das conseqüências, dentre outros elementos.

O livro discute ainda a entrevista jornalística e tenta compreender as maneiras como Caros Amigos concretiza essa prática. Feitas todas as contas, é possível afirmar que a revista exercita um jornalismo que se preocupa, essencialmente, com o direito à informação, a realidade complexa, o debate plural de idéias e versões, os valores dos direitos humanos e da justiça social. É um jornalismo que se preocupa, acima de tudo, com a ética e cotidiana construção da cidadania.

Francisco Bicudo é formado pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), especialista em Política Internacional pela Fundação Escola de Sociologia de São Paulo (FESP/SP) e mestre em Ciências da Comunicação também pela ECA/USP. É professor do curso de Jornalismo da Universidade Anhembi Morumbi, onde ministra as disciplinas Teoria do Jornalismo, Ética e Legislação do Jornalismo e Jornalismo Interpretativo. Colabora com a revista Pesquisa Fapesp e com o site do Sindicato dos Professores de São Paulo (SINPRO-SP).

É assim que se faz Marketing com M caixa alta


Deu no Globo hoje. Bela sacada! Bela aula de Marketing e/ou Assessoria.

domingo, 15 de julho de 2007

Mais um belo blog de aluno. No caso, a Isabelle Ramos



Isabelle está cobrindo o Pan e aproveitou para ativar o seu blog. Tem futuro como editora e programadora visual. Vejam as páginas que ela fez e visitem o blog "Acordando idéias".
http://www.acordandoideias.blogspot.com/

Assessoria de Imprensa (Aula 1): Lobby, segundo Veríssimo

Oscar Niemeyer. Não é preciso dizer mais nada



Sou fã desse cara há 100 anos. Vale a pena ler o artigo dele publicado na Folha de hoje. Tudo a ver com jornalistas e estudantes de Jornalismo.

Entrevistas
OSCAR NIEMEYER
--------------------------------------------------------------------------------
Cansado de repetições, tento mudar de assunto. Passei a vida sobre a prancheta, mas, para mim, a política importa mais que a arquitetura
A arquitetura serve apenas aos mais poderosos; os mais pobres dela nada usufruem, vendo, revoltados, de seus barracos, o mundo dos ricos

--------------------------------------------------------------------------------

ULTIMAMENTE , minhas manhãs são ocupadas por entrevistas e encontros. Jornais e revistas nacionais e estrangeiros, pessoas interessadas em saber o que penso da arquitetura e da própria vida.
Sobre a arquitetura, me restrinjo a explicar que, hoje, o concreto armado tudo permite aos arquitetos, que arquitetura é invenção e que a minha preocupação principal é utilizar a técnica em toda a sua plenitude, buscando dar aos meus projetos a surpresa, o espanto que uma obra de arte requer.
E esclareço aos que me entrevistam que, quando o tema permite, começo reduzindo os apoios, e a arquitetura se faz mais audaciosa, e as coberturas, maiores, se adaptando às formas diferentes que a imaginação vai criar.
A entrevista prossegue, eu procurando encurtar os assuntos da arquitetura, mas não raro surge uma pergunta que requer uma explicação. Numa das entrevistas recentes, indagaram: "Que relação tem Le Corbusier com o projeto do edifício-sede do Ministério da Educação e Saúde?". Um projeto feito por uma equipe chefiada por Lucio Costa, tendo por base um projeto do velho mestre.
E, como de costume, me limitei a dizer que se tratava de um projeto de Le Corbusier. Uma preocupação permanente que temos em preservar a autoria de qualquer projeto arquitetônico -coisa antiga que, já no passado, Michelangelo revelava, ao se recusar a interferir no projeto original de Bramante para a basílica de São Pedro em Roma.
Mas, no caso do projeto elaborado pela comissão chefiada por Lucio Costa, é diferente, tantas foram as modificações feitas no segundo estudo apresentado por Le Corbusier.
A própria localização do prédio no terreno foi alterada: em vez de mantê-lo, como constava do projeto do velho mestre, grudado à rua, defronte do Ministério do Trabalho, com a fachada norte prejudicada (praticamente escondida), resolvemos colocar o edifício no meio do terreno, dividindo em duas a praça existente. Em razão dessa solução, surgiram os pilotis e a ligação tão bonita entre eles.
E nos ocorreu a solução diferente dada ao bloco destinado a exposições e auditório, solto, independente do edifício, como antes não ocorria.
Depois, a simplificação das fachadas do edifício. A fachada sul construída toda de vidro, sem as interrupções nas áreas correspondentes aos sanitários, antes previstas. Na outra, foi adotado o sistema de brise-soleil por Le Corbusier preconizado, com a diferença de que as placas horizontais não são fixas, em concreto, como o velho mestre usava, mas móveis, regulando a proteção solar -um sistema de placas móveis antes empregado pelos irmãos Roberto. Um detalhe que evoluiu naturalmente ao passar do tempo. Podia ter lembrado que, na mesma época, no Rio, outros edifícios de igual espírito arquitetônico estavam sendo criados, como o prédio da ABI, o aeroporto Santos Dumont etc.
Essa era a explicação que, como membro daquela comissão, eu deveria ter fornecido ao meu entrevistador. Afinal, é generosidade demais considerar o prédio do Ministério da Educação e Saúde uma simples variação de um projeto já elaborado diante da explicação que acabo de dar.
Nessas entrevistas, procuro limitar um pouco os assuntos da arquitetura -um trabalho, a meu ver, muito pessoal, em que o arquiteto deve fazer o que gosta, e não aquilo que os outros gostariam que ele fizesse.
E a conversa prossegue, os jornalistas perguntando sobre meus últimos trabalhos, o que estou fazendo no exterior, qual o projeto que mais me agrada entre os já realizados.
Para atendê-los, lembro às vezes o projeto da sede da editora Mondadori, em Milão (Itália), em que a surpresa arquitetural surge logo ao visitante que chega -a grande colunata com espaços diferentes, num ritmo musical que até hoje não se viu em outro edifício-, ou a Universidade de Constantine, na Argélia, em que, estando com o nosso amigo Darcy Ribeiro, que lá nos acompanhava, preocupado com que o projeto em elaboração garantisse o contato mais íntimo entre os estudantes, adotei a sua idéia, criando uma universidade completamente diferente. Lembro do entusiasmo com que Darcy, Luís Hildebrando Pereira da Silva, Heron de Alencar e Ubirajara Brito, exilados na Europa, vieram à Argélia para comigo colaborar.
Ah, como até no exterior a arquitetura muitas vezes sofre alterações! É a notícia que recebo de Constantine, surpreso ao saber que uma grande placa de vidro foi colocada, fechando o recreio em pilotis que desenhei -o que contrasta com o que se verificou com a sede do Partido Comunista Francês.
Convocado por seu secretário-geral, ele me disse: "Oscar, a sede está pronta, está muito bonita; tenho uma escrivaninha velha, que me acompanhou a vida inteira; eu gostaria de saber se você me permite colocá-la no meu gabinete". Em toda a minha trajetória de arquiteto, foi a única vez que me falaram assim.
Um pouco cansado das repetições inevitáveis, tento quase sempre mudar de assunto, buscando levar a entrevista para o lado político, que mais me interessa: "Vocês sabem, passei a vida debruçado na prancheta, mas, para mim, ela é mais importante do que a arquitetura". E, como para espantar os jornalistas mais um pouco, continuo: "Quando vejo um jovem protestando nas ruas, sinto que o que ele faz é mais importante do que o meu trabalho de arquiteto".
E mais ainda os surpreendo quando falo dos problemas da vida, deste mundo injusto que devemos modificar, da insignificância do ser humano diante deste universo fantástico que tanto o atrai e humilha. E enveredo, como comunista que sou, pela crítica deste sistema capitalista responsável pela injustiça e pela violência que se multiplicam por toda a parte, com o império de Bush a invadir os países mais desprotegidos.
Sinto que, de um modo geral, essa minha conversa começa a interessá-los, acostumados que estão a ouvir sempre dos arquitetos mais importantes o entusiasmo incontido pelas obras que realizam, a mostra do talento com que as projetaram, certos de que ficarão na história da arquitetura por sua contribuição irrefutável.
Como para contestá-los, lembro que a arquitetura serve apenas aos mais poderosos; os mais pobres dela nada usufruem, vendo, revoltados, de seus barracos, o mundo dos ricos, fútil e ignorante (mas eles bem instalados em seus palácios junto ao mar).
Raramente algum deles resolve contestar-me: "E no mundo socialista que vocês propõem, o que vai acontecer?". É claro -respondo- que a vida será mais justa, as habitações serão mais modestas, mas as escolas, as universidades, os grandes empreendimentos humanos -os hospitais, os estádios, os cinemas, os teatros, os museus, os centros culturais- serão mais importantes, porque deles todos participarão. E o homem será mais simples, mais humano, curioso à procura da verdade de sua própria existência, de sua origem tão longínqua que até uma ameba poderá explicá-la.
Perplexo diante do futuro, que nada de bom oferece, mas a sonhar com o progresso da ciência, com as viagens interplanetárias, que enfrentam as distâncias mais fantásticas.
Não raro, depois de as entrevistas serem publicadas, os equívocos aparecem, e por vezes tão lamentáveis que sou obrigado a me manifestar. E, quando o assunto é político, um engano que possa ocorrer me preocupa ainda mais.
Aproveito este texto para esclarecer que a presença de Lula no atual governo é, a meu ver, da maior importância. Operário, voltado para o povo, hábil na política externa, embora, como comunistas, nos seja muitas vezes difícil aceitar o seu espírito conciliador.
Vivemos um momento difícil no campo internacional, o império de Bush a ameaçar o mundo inteiro. Internamente, um ambiente estranho começa a nos inquietar: é uma onda irrefreável de denúncias, gravações de conversas telefônicas, gente sendo presa sem provas; cria-se o terror, como nos velhos tempos de Beria na antiga União Soviética ou no período do macartismo nos Estados Unidos.
Além disso, é o fantasma do inesperado, que, para o bem ou para o mal, um dia pode surgir.

Mais uma bela aula do ombudsman da Folha


Mário Magalhães, como sempre, transforma em aula de Jornalismo sua coluna dos domingos. Hoje ele fala da falta de senso crítico de alguns coleguinhas. É preciso estar atento e forte e jornalista, como quase todo mundo, é sempre desligado e não presta atenção nas coisas ou no que se está falando.

Lembro que uma vez fui procurado por um deputado picareta que queria fazer uma "denúncia" contra um colega político. Era um recorte do Diário Oficial com nomeações irregulares. Só que uma simples espiadinha com atenção no que estava escrita mostrava que as tais nomeações irregulares tinham sido feitas no fim do governo anterior e não no ínício do governo que o parlamentar queria criticar.

Resultado: parte da Imprensa "comeu mosca" e O Globo, onde eu trabalhava, deu um outro enfoque na matéria.
É preciso ler e VER.

Efeito boiada e operação tartaruga
Mário Magalhães

--------------------------------------------------------------------------------
Uma deficiência jornalística é se associar a relatos sem o devido senso crítico; basta observar o vídeo com atenção para constatar que não há envelope --------------------------------------------------------------------------------

Não sei se o ex-ministro Silas Rondeau é ladrão.
Ou, melhor dizendo, se ele recebeu propina da empreiteira Gautama quando dirigia a pasta de Minas e Energia.
A Polícia Federal suspeita que Rondeau tenha embolsado suborno de R$ 100 mil, em troca de facilidades no programa Luz Para Todos. Ele nega.
No dia 21 de maio, a Folha noticiou o conteúdo de um vídeo do circuito interno do ministério. A PF o obteve na investigação sobre fraudes em obras públicas que resultou na Operação Navalha.
O jornal afirmou: "As imagens mostram uma funcionária da Gautama, Fátima Palmeira, entrando no ministério pelo elevador privativo no dia 13 de março deste ano. Ela carrega um envelope de cor parda, no qual a PF acredita que estavam R$ 100 mil".
Prosseguiu o texto: "Diretora financeira da Gautama, ela se dirige até o andar do gabinete de Silas Rondeau. Lá, encontra-se com o assessor do ministro Ivo Almeida Costa, preso na Operação Navalha. Meia hora depois, as imagens registram a saída de Fátima e de Ivo do gabinete. Aí, quem está de posse do envelope é o assessor".
Perguntei, e a Redação informou que teve acesso às imagens "com uma fonte". Na véspera, o programa "Fantástico" as havia exibido com ineditismo e as descrito de modo semelhante ao do jornal -a rigor, de boa parte dos jornais- no dia seguinte.
O tal envelope ganhou destaque desproporcional na detalhada apuração da polícia. A PF acompanhou o saque em agência bancária, testemunhou encontros, interceptou telefonemas tratando de dinheiro e da incursão da diretora da Gautama por uma entrada discreta do prédio público. Seria estranho que focasse um envelope, e não a bolsa de razoável dimensão nos braços da visitante.
O ministro pediu demissão em 22 de maio, inexistindo prova conclusiva contra si, embora os indícios estejam longe de ser desprezíveis.

Laudo
No fim de semana passado, a revista "Carta Capital" divulgou laudo encomendado pela defesa de Ivo Costa, ex-assessor de Rondeau. O perito Ricardo Molina de Figueiredo sustenta que não havia envelope com Fátima e que Ivo Costa tinha nas mãos uma folha branca de papel.
No sábado retrasado, o "Jornal Nacional" veiculou reportagem descrevendo a perícia. Na segunda, a Folha titulou: "PF não afasta suspeita sobre ex-ministro".
Contou que, "de acordo com a investigação da Polícia Federal, [o dinheiro da propina] foi [levado] ao ministério na bolsa da diretora financeira [...]" da construtora.
O jornal não lembrou ter bancado a impressão original da PF. Mais grave, reafirmou que havia envelope com Fátima Palmeira e Ivo Costa. Disse que Molina "concluiu não ser possível colocar R$ 100 mil num envelope como o das imagens", quando o laudo vai muito além: nega haver envelope e afirma que, além da bolsa, Fátima levava apenas um celular e "uma espécie de livro com capa escura".
Resolvi checar: na internet, vi e revi o vídeo transmitido pela TV Globo, o mesmo analisado por Molina.
Não identifiquei envelope com a representante da Gautama. Com o ex-assessor, há na mão um objeto branco que aparenta ser de fato uma folha de papel. Esquadrinhei o laudo, que parece fiel às imagens. O que o laudo não diz: o volume estimado pelo próprio estudo para um pacote com mil notas de R$ 100 caberia na bolsa feminina.
Para a Redação, a reportagem de maio foi correta: "[A Folha] recebeu a informação de fonte qualificada e teve acesso a um pen drive com as imagens. Nelas, Fátima carrega um volume sob o braço, que parece ser um envelope de cor parda, e o assessor também carrega um papel".
"É argumentável, como a perícia depois indicou, que não eram envelopes suficientemente grandes para carregar R$ 100 mil, mas a imagem não permite dizer isso. Como a imagem foi analisada em off dos investigadores do caso, foi colocada a versão de que "a PF suspeita"." A Redação continua a insistir: "Há um objeto na mão da assessora que pode ser um envelope".
Uma deficiência do jornalismo é se associar a algumas versões sem o devido senso crítico. Basta observar o vídeo com atenção para constatar que ele não mostra envelope, pardo ou de qualquer cor.
Ainda que agentes da Polícia Federal dissessem que sim, o jornal não deveria subscrever o engano.
Na hora de reportar suspeitas e acusações, nós jornalistas obedecemos a um certo efeito boiada: um dispara, os outros correm atrás e ecoam.
Quando se trata de corrigir ou recuar, impõe-se uma operação tartaruga, atávica, muitas vezes involuntária. Quem perde são os leitores.